Sunday, December 28, 2008

O paquistanês sentou-se no banco de trás do carro e colou-nos ao ouvido o telemóvel que debitava uma música muito na moda nas melhores discotecas do país. Eu não vou às melhores discotecas do país e aquela música feria-me os ouvidos. O CD que tínhamos escolhido soava tímido, quase imperceptível por detrás dos beats e remixes. Era já dia e a luz vermelha do semáforo contrastava com o cinzento do céu. Íamos para tua casa.
Por entre copos de vinho tinto entornado e cigarros, o paquistanês olhou para a palma da nossa mão direita. Sentados num tapete que não voava, quisémos saber do futuro, reiterar a esperança de alcançar a insubordinada felicidade da alma. A outra felicidade, a do corpo, tinha acabado de passar por nós, enquanto dançávamos. É uma felicidade fácil é certo, e talvez por isso, insuficiente.
Quando voltei, o cinzento do céu escorria para a cidade. Deitei o meu corpo cansado na cama fria e adormeci com a solidão. A cor que vejo por detrás da janela é aquela que está por baixo dos meus olhos. Está tudo tão calmo que penso que eu e tu somos as únicas pessoas nesta cidade.
Juntei o dia com a noite. Acordei quando toda a gente vai dormir e tenho o cheiro do tabaco no nariz e o vapor do álcool na garganta. Lá fora, um nevoeiro branco ocupa o espaço vazio entre os prédios. Era domingo.