Sunday, December 30, 2007

Adormeceste. As nossas mãos dadas sobre o teu ventre. Sinto os teus ossos que rangem a cada respiração tua numa contagem decrescente. Sei que não te posso ter aqui para sempre.
Faço deslizar a minha mão sob a tua. Não acordas. Tenho de ir. Por não poder ter-te aqui para sempre, também eu não posso ficar.

Wednesday, December 26, 2007

Por estar vazia, a cavidade destinada aos sentimentos está a ser progressivamente ocupada pelos sistemas do meu corpo. Sinto-o nas minhas calças que me dançam nas pernas e me roçam no rabo. Estou a tornar-me um ser compacto, e por isso mirro. Em breve serei uma máquina, dependente apenas das leis da física.
Aqui as pessoas já não me reconhecem. Sorrio quando me cruzo com elas. Li que identificam os mortos pelos dentes. E pelos ossos. Mas esses, elas ainda não vêem. Ainda.

Monday, December 24, 2007

Nessa manhã acordou com um peso na consciência.
Entrou na casa de banho e teve medo da imagem que o espelho reflectiu. Percebeu então que não era um peso de ontem, mas de sempre: do tempo que passa e da vida que não lhe chega.

Wednesday, December 19, 2007

Acordei e era noite.
Nesse dia o sol não nasceu, e os pássaros agradeceram ao Senhor a benesse de não ter que viver mais um dia.

Tuesday, December 11, 2007

Poema dadaísta

Ignoramos como erguem do meu quarto
Levar da vida pouco em mim
Traje onanista quando considero-o pensamento
Acrescentou verdadeiramente pautada
Perdidos substantiva mesmo

Monday, December 10, 2007

Ferem-te, rodam sobre os calcanhares e seguem o seu caminho. E tu ficas ali, a agonizar: os olhos divididos entre a ferida e as costas do outro, incrédulos. O sangue corre enquanto esperas pela última gota. Mas apesar do teu luto a morte não vem, e no silêncio dos teus pensamentos e das perguntas sem resposta, aceitas. Não és tu, não é outro: é somente uma junção dos dois.

Sunday, December 9, 2007

Wednesday, December 5, 2007

Tomei banho e vesti-me de lavado. Era domingo.
Saí para a rua camuflada dos meus destroços interiores. A fachada retocada para não deixar ver nem adivinhar, a devastação do interior.

Monday, December 3, 2007

Olhei-te nos olhos.
Uma mão aberta,
Cinco dedos estendidos,
Imploravam.
Ajuda.