Thursday, May 31, 2007

Nesse dia decidiu pentear-se.

Tuesday, May 29, 2007

Era todos os dias a mesma coisa. Apanhava o barco, sentava-se à sua secretária de sempre, e alinhava os pés da sua velha cadeira com as marcas deixadas no chão pela rotina. Pegava na cigarreira perfeitamente alinhada ao lado da sua Mont Blanc e fumava o primeiro cigarro do dia, olhando a cidade, procurando o que não encontrava.
Tinha herdado há muitos anos aquele posto de dragagem no meio do Tejo.
Às 12.30 em ponto a secretária trazia-lhe o almoço. Assinava alguns papéis, levantando-se apenas da cadeira às 18, hora em que apanhava o barco de regresso. Atravessava o Terreiro do Paço, subia a Rua Augusta, virava à esquerda na Rua da Betesga... não jantou na Casa Chinesa como costume. Contornou o Rossio pela esquerda, subiu a Avenida da Liberdade, virou à esquerda na Rua Barata Salgueiro, sempre sem pisar as pedras pretas da calçada.
Nessa noite chegou a casa, pôs um disco a tocar, acendeu uma vela, e ficou ali a esgravatar na memória...

Friday, May 25, 2007

Chuva silenciosa

Estão uns dias de chuva silenciosa, como se a cidade estivesse submersa.
A água impõe um ritmo lento a quem daqui faz os seus dias, e abafa todo o barulho. As buzinas sussurram e as palavras transformam-se em movimentos de boca inconsequentes. Fastidioso, o tempo que não passa.
Estão um daqueles dias em que o espelho reflecte a idade que um dia vais ter. A inquietude daquilo que não és e a saudade daquilo que já foste.
Esta água dificulta-me os movimentos e limita-me a visão.

Tuesday, May 22, 2007

Endromina-me, endromina-me mucho,
Como si fuera esta noche la última vez...

Friday, May 18, 2007

Clandestinidades

Estou sentada no meio de duas cenas. Uma criança faz uma birra de pé em cima do banco e bate repetidamente na mãe. Do outro lado dois namorados estão de mãos dadas frente a frente. Não consigo ver a cara dele, mas ouço-o dizer qualquer coisa que não percebo, e ela esboça um sorriso que vai aumentando de intensidade à medida que a frase se aproxima do fim. A criança já não faz birra. Grita agora, "Olá barco! Adeus barco à vela...". Sorrio, enquanto o senhor à minha frente escreve na agenda, 30 de Maio - greve geral.

Wednesday, May 16, 2007

Deus

Estavam dois homens encostados à parede de uma rua perpendicular a outra, de onde haveria de vir um amigo por que esperavam.
O primeiro homem apenas conseguia ver parte da rua de onde viria o amigo, pois tinha uma esquina à frente que lhe tapava a visão. O segundo homem não. Via toda a rua, podendo desta forma saber antes do outro que o amigo se aproximava. Este homem era Deus em relação ao que o acompanhava. Conseguia ver o que o outro ainda não via, e saber o que o outro ainda não sabia. Deus. O que vês e antecipas da vida depende do teu ângulo de visão.

Sunday, May 13, 2007

As respostas que não sei dar às perguntas que me surgem, vêm na última página ou na próxima edição da vida?

Friday, May 11, 2007


Senta-te aqui. Não precisas falar. Basta ficar.
Olha, o último raio de sol. Quantos ainda nos faltarão?
Enterra os teus dedos na areia. Está fria lá no fundo, como tu.

Foge da memória.

Thursday, May 10, 2007

Conjuntura

A conjuntura é olhar para a esquerda quando se devia olhar para a direita; é correr quando se devia andar; é dizer sim quando se devia dizer não; é falar quando se devia estar calado; é rir quando se devia chorar; é ir quando se devia ficar.
A conjuntura é procurar a diferença, e encontrar o conforto na igualdade.

Monday, May 7, 2007

História de Pasmar

Era uma vez um país profícuo ou promíscuo, não me lembro bem, onde o Verão era no Inverno e a Primavera no Outono, e os queques nem de ontem eram.
Nesse país havia um menino que procurava um tesouro que haveria de mudar para sempre a sua vida. Todos os dias cavava cada vez mais fundo o mesmo buraco. O tempo foi passando, e ele, por nada encontrar, foi perdendo o entusiasmo. Um dia, desesperado, sentou-se numa pedra afastada que havia por ali, espetou os cotovelos nas pernas, segurou a cabeça entre as mãos, olhou para o chão, e encontrou-o.

Saturday, May 5, 2007


Estou parada nesta vida, à espera que alguém me leve.

Thursday, May 3, 2007

Penélope

Calçaste os teus ténis e disseste que ias partir. Correr sempre em frente, para nunca mais voltar. Só tu e os teus ténis. Bastava.
Mal pensaste tu, que o tempo anda em círculos e a Terra é redonda. Se não voltares com um, voltarás por causa do outro.