Friday, August 31, 2007

O copo indica-me a direcção de casa

Friday, August 24, 2007

Adelino dos passos pequenos, é assim que é conhecido lá na aldeia.
Conta-se que um dia deu um passo maior que a perna e que o Senhor o castigou por isso. Com fios invisíveis atou-lhe os tornozelos e reduziu-lhe o equilíbrio.
"Agora verás o mundo, mas conhecerás os teus limites", disse.
Apressa os seus passos para tentar acompanhar o ritmo dos outros.
E a aldeia passa por ele. Lá vai Adelino dos passos pequenos!
Mas Adelino não esmorece.
"Limitaste-me as pernas, mas não a vontade", pensa.

Sunday, August 19, 2007

Dimitria é pastora sem cajado.
Do alto da pedra onde se senta, olha o rebanho, imune.
Mas às vezes, uma aproxima-se e lambe-lhe os pés descalços.
Nasce então no seu rosto um sorriso vindo desse momento armazenado.
Outras vezes, uma investe na sua direcção.
É daquelas que fazem sentir a mágoa a aflorar, a assomar e a descer transformada em lágrima.
Então esconde-se. Foge. Busca o refúgio nos dias.

Di-mi-tri-a é pastora,
E guarda recordações.

Friday, August 10, 2007

Agosto. Vens sempre em Agosto.
Eu já te esperava.
Aposto que dormes o teu sono invernal embalada pelos meus passos e pela minha música.
E que a primeira coisa que pensas quando abres os olhos é em mim.
E vens. Contra toda a gravidade ali ficas à espera que os meus olhos encontrem os teus.
Esta noite encontrei-te na minha janela. Vias as estrelas.
Talvez amanhã entres. Gostas do jogo que é sempre o nosso reencontro.

É Agosto e eu não querendo já sabia:
La huesga voltou.

Tuesday, August 7, 2007

Chegou o tempo da brisa da manhã,
do cheiro a maresia,
da espuma das ondas,
dos percebes,
do cabelo impregnado de sal,
do fresco da tarde,
das camisolas de capuz,
do pôr do sol no mar,
dos jantares de corpo cansado...
Chegou.
Mas não veio.