- Estás triste?
- Estou.
- Não podes antes ficar triste amanhã?

Passava dias inteiros sentada em cima da porta aberta. Gostava de ver as vidas que passavam sob os seus pés. Fazia esquemas mentais de cada uma delas e já antecipava a rotina. Divertia-a. Era como estar numa nuvem voadora, e nem as queixas constantes da corrente de ar que vinha da porta aberta a faziam descer.

Antecipava as acções dos outros mas não as entendia. Para ela, não passavam de uma futilidade de conveniência. Era isso, ninguém estava contente, mas toda a gente repetia os mesmos gestos, as mesmas atitudes, as mesmas crenças, o mesmo disfarce.

Hoje, a normalidade obrigou-a a comporta-se como os outros. Mas no essencial, ela ainda continua em cima da porta.

Já vivi 28 vezes o segundo da minha morte.

Às vezes o vazio dos dias pode resumir-se a um «esteve um bom dia para estender roupa».

2 histórias bizarras com final trágico

Ao mesmo tempo que o progresso chegava à vila, Alberto pedalava na sua bicicleta em direcção a casa, depois de mais um dia de trabalho na courela e do habitual copo na taberna. Era noite cerrada, quando caiu num dos buracos destinados aos postes da electricidade. Alberto foi encontrado morto no manhã seguinte.



Era uma manhã de nevoeiro branco acompanhado das primeiras geadas de Inverno. Sebastião conduzia o seu carro quando este avariou numa subida. Saiu para o empurar, mas o peso do carro foi superior às suas forças, e atropelou-o. Sebastião morreu.

Abraço-te e digo que gosto muito de ti. Espero que um dia me perdoes aquilo que ainda te vou fazer sofrer.