Tuesday, September 23, 2008

Arranquei as asas a uma mosca e ordenei-lhe que voasse.
É a conjuntura. No interior sentes a possibilidade de voar, mas tudo se organiza de modo a que apenas te sejam permitidos parcos saltos.

Monday, September 22, 2008

Hoje deitava-me num canto, enrolada de lado e com o dorso voltado para o mundo. E deixava-me ficar, até que a fome me corroesse o estômago e a sede me intumescesse a língua. Até apodrecer, como um animal que não podendo mais viver, se deita no caminho da própria morte.
Hoje morria e aguentava até ao último minuto a consciência do meu declínio.

Wednesday, September 17, 2008

As pernas suportam a muito custo o peso do corpo que lhe engordou. Está sentada, a mão pousada sobre o joelho: vício do corpo de alguém que se habituou a pedir, sabendo antecipadamente que na palma da sua mão apenas persistirá uma linha da vida longa demais para a curta e esbatida sorte também ali profetizada. Nos seus olhos uma lembrança do seu tempo, do tempo em que tinha entusiasmo no futuro. Acreditava. E as pessoas passam por ela, indiferentes. Tão indiferentes como o tempo que lhe foi enrugando a cara, sem nunca se importar com os seus sonhos.

Monday, September 8, 2008

Uma linha que se ia apagando à medida que era desenhada.
Isso é que era vida.