Tuesday, May 29, 2007

Era todos os dias a mesma coisa. Apanhava o barco, sentava-se à sua secretária de sempre, e alinhava os pés da sua velha cadeira com as marcas deixadas no chão pela rotina. Pegava na cigarreira perfeitamente alinhada ao lado da sua Mont Blanc e fumava o primeiro cigarro do dia, olhando a cidade, procurando o que não encontrava.
Tinha herdado há muitos anos aquele posto de dragagem no meio do Tejo.
Às 12.30 em ponto a secretária trazia-lhe o almoço. Assinava alguns papéis, levantando-se apenas da cadeira às 18, hora em que apanhava o barco de regresso. Atravessava o Terreiro do Paço, subia a Rua Augusta, virava à esquerda na Rua da Betesga... não jantou na Casa Chinesa como costume. Contornou o Rossio pela esquerda, subiu a Avenida da Liberdade, virou à esquerda na Rua Barata Salgueiro, sempre sem pisar as pedras pretas da calçada.
Nessa noite chegou a casa, pôs um disco a tocar, acendeu uma vela, e ficou ali a esgravatar na memória...