Não podia fechar os olhos. No negro das pálpebras fechadas surgia-lhe repetidamente a imagem ampliada: o momento em que os seus lábios se tocaram num beijo demorado. Era o ciúme que não o deixava dormir. Amava-a. Agora que os tinha visto atrás da nora, sabia que a amava. Sabia também que os sorrisos abafados e os olhares trocados, não passavam de meras ilusões em que acreditava para se manter vivo. E agora, aquilo, atirado como pedras a esmagarem-lhe o peito. A conhecer o seu destino mas a não querer acreditar nele, a estender a mão e a encontrar o frio e o vazio onde antes tinha imaginado o seu corpo. Só a morte lhe daria a tranquilidade negra das pálpebras fechadas. Não a podendo ter, desejava-a.