A padeira está à porta. Vê quem passa enquanto avanço em direcção à luminosidade característica das avenidas novas. Cruzo-me com o filho do senhor da agência funerária que espera de mochila às costas que o pai o leve à escola, e respondo com um olá bom dia, ao cumprimento que o indiano me dirige enquanto abre a drogaria. Desço as escadas do metro a correr e no minuto que falta até à chegada do próximo comboio leio algumas linhas que se convertem em algumas páginas quando chego à última estação. Cais do Sodré. No cimo das escadas rolantes espera-me o cheiro desagradável vindo do supermercado e as mulheres às quais recuso os jornais gratuitos. Apanho o barco para a outra margem cinzenta. Sobre as águas do Tejo, vejo Lisboa a afastar-se. Primeiro com pormenor, depois uma vista panorâmica de casas encavalitadas sobre as colinas.
O homem aproxima-se, “esta cidade é grande demais para que nos possamos encontrar”. Olho-o de perto e o grande elástico que é o tempo atiram-me para trás. Aflita, finjo uma serenidade que não existe dentro de mim. “E contudo, aqui estamos”, respondo. Sorriu. As minhas palavras e as imagens que lhe passavam atrás do olhos baços, a desenharem-lhe o escárnio nos lábios. O corpo no farrapo em que a vida o havia convertido. “Porquê?”. Baixei a cabeça tentando disfarçar a dor que aquela interrogação comportava. “Há silêncios que se interpõem entre nós até que se tornam num imenso vazio”. E há vazios que não podem jamais ser preenchidos, vão-se instalando, como a maré que vai subindo e tapando progressivamente a areia. Abandonei-o ao pôr do sol, deitado na cama que fora nossa por tantos e tantos anos. Continuar ali deitada era protelar um sofrimento para escapar ao sofrimento do fim. Defronte um do outro, olhamo-nos agora com a resignação que a vida traz aos acontecimentos passados. Baixa o olhar, vira-me as costas e afasta-se pelo mesmo caminho por onde veio. O vazio entre nós e o silêncio da sua resposta a preenchê-lo.
O homem aproxima-se, “esta cidade é grande demais para que nos possamos encontrar”. Olho-o de perto e o grande elástico que é o tempo atiram-me para trás. Aflita, finjo uma serenidade que não existe dentro de mim. “E contudo, aqui estamos”, respondo. Sorriu. As minhas palavras e as imagens que lhe passavam atrás do olhos baços, a desenharem-lhe o escárnio nos lábios. O corpo no farrapo em que a vida o havia convertido. “Porquê?”. Baixei a cabeça tentando disfarçar a dor que aquela interrogação comportava. “Há silêncios que se interpõem entre nós até que se tornam num imenso vazio”. E há vazios que não podem jamais ser preenchidos, vão-se instalando, como a maré que vai subindo e tapando progressivamente a areia. Abandonei-o ao pôr do sol, deitado na cama que fora nossa por tantos e tantos anos. Continuar ali deitada era protelar um sofrimento para escapar ao sofrimento do fim. Defronte um do outro, olhamo-nos agora com a resignação que a vida traz aos acontecimentos passados. Baixa o olhar, vira-me as costas e afasta-se pelo mesmo caminho por onde veio. O vazio entre nós e o silêncio da sua resposta a preenchê-lo.