Vens e pedes para pousar a cabeça no meu colo sem perguntas. Apenas que te afague o cabelo sem palavras ou outra qualquer tentativa ridícula de te salvar da vida. Enquanto sinto a tua nuca de cabelo macio na palma da minha mão, tu choras. Procuras um lugar onde possas proteger-te do produto da tua existência que não seja a solidão de uma almofada. A desolação de atravessar fronteiras tendo como única companhia uma consciência intranquila, que te martiriza com aquelas perguntas que me pedes que não faça.
Sabes que não tenho o amor suficiente para te oferecer o mundo na palma da mão. Essa é uma utopia própria daqueles que amam. Limito-me a amparar o teu sofrimento com o meu corpo. De uma forma ou de outra, já deixei de acreditar na salvação e, não sendo um e outro a mesma coisa, também no amor.