A luz em ti. Escuro, mas a luz sobre ti. Sobre o teu corpo envolto pela música que te toca suavemente na pele, num gesto apaziguante da vida que se vai espetando na alma. As estrelas sabem que a vida só melhora ao fim de semana quando sais para dançar. A liberdade de o tempo ser a música que o teu corpo acompanha. A mão que se ergue pelo cotovelo dobrado, realçando-te a silhueta. Os olhares anónimos que te cercam, e a luz sobre ti. O mundo é a música que o teu corpo dança.
A valsa indica o fim. Quando dela se ouvir a última nota os pêndulos dos relógios voltarão a ditar o tempo, a cidade erguer-se-à do alcatrão e a vida voltará com toda a sua rudeza implacável. O fresco da manhã é o prenúncio da sua aspereza. Resistes, como se adia minuto a minuto abandonar um corpo que se ama. Sentir a manhã a arrefecer-te o corpo é um acto de coragem. Vivendo, não há como fugir à vida.
Regressas. Pousas a cabeça sobre a almofada branca. Tentas enganar o cansaço nesse corpo esgotado. Não dormes. As memórias, como pedras atiradas esmagam-te a cabeça. E os sonhos que a vida transformou em utopias, abrem-te uma ferida no peito. A impotência. Como ver um membro amputado que não voltará a crescer, como a vida que não tornará a nascer. Estendes o braço e do outro lado da cama sentes o frio dos lençóis na palma da tua mão. A música remedeia-te o vazio mas não o preenche, e as estrelas sabem que a vida só melhorará no próximo fim de semana...