O meu corpo sepultado na minha própria cama. Eu quase morta. Apenas uma leve respiração e um fraco batimento do coração. Eu sepultada. O peso dos cobertores, o silêncio do quarto, o peso da terra, o silêncio da morte. E a noite que cai pelo quadrado da clarabóia. Eu a desejar que a morte venha. Que o próximo batimento do meu coração seja um silêncio profundo. Que de mim não reste nada mais que o meu número de morta espetado num monte de terra. A brisa fria do sepulcro que a morte sopra. A solidão daquilo que fui um dia. Eu na noite, nesta tarde que é uma noite escura, como todas as manhãs escuras. O peso da vida sobre os cobertores. O engano da vida. Eu à espera da morte. A conhecer o meu destino, mas a não acreditar nele. A querer acreditar nele, mas a não suportar acreditar nele. Eu morta. E a desejar que o sol não se torne a levantar pelo quadrado da clarabóia.