Passava dias inteiros sentada em cima da porta aberta. Gostava de ver as vidas que passavam sob os seus pés. Fazia esquemas mentais de cada uma delas e já antecipava a rotina. Divertia-a. Era como estar numa nuvem voadora, e nem as queixas constantes da corrente de ar que vinha da porta aberta a faziam descer.
Antecipava as acções dos outros mas não as entendia. Para ela, não passavam de uma futilidade de conveniência. Era isso, ninguém estava contente, mas toda a gente repetia os mesmos gestos, as mesmas atitudes, as mesmas crenças, o mesmo disfarce.
Hoje, a normalidade obrigou-a a comporta-se como os outros. Mas no essencial, ela ainda continua em cima da porta.